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D2C

D2C: saiba tudo sobre modelo de negócios

A sigla D2C, que significa Direct to Consumer (ou, em português, “Direto ao Consumidor”), refere-se a um modelo de negócios no qual a marca/fabricante vende seus produtos ou serviços diretamente ao consumidor final, sem depender de intermediários como distribuidores, atacadistas ou varejistas tradicionais.

Nesse formato, a empresa assume o controle de todo o ciclo — desde o desenvolvimento e fabricação (ou curadoria), passando pela venda, entrega e, muitas vezes, atendimento pós-venda. Essa abordagem permite acesso direto ao cliente, dados de consumo, personalização da experiência e margens mais elevadas, pois elimina etapas da cadeia tradicional de vendas.

É importante destacar que D2C não se limita apenas a “marcas nativas do digital” (pure-players online), embora essa seja uma forma frequente. Muitas empresas tradicionais estão migrando para ou incorporando canais D2C para complementar seus modelos.

D2C no Brasil e no mundo: um mercado em crescimento

O modelo D2C tem ganhado cada vez mais relevância globalmente, impulsionado pela digitalização, pelo crescimento do e-commerce e por consumidores que buscam experiências mais personalizadas e relacionamentos diretos com as marcas.

A McKinsey & Company identificou que empresas com negócios D2C cresceram em média 30% mais ao ano em valor de ações do que empresas sem D2C, e apresentaram 7 pp de múltiplo de lucros a mais durante o período 2012-22. No Brasil, o cenário de e-commerce e D2C mostra taxas significativas de crescimento:

  • O mercado brasileiro de e-commerce está estimado em cerca de US$ 59 bilhões em 2025, projetando-se alcançar cerca de US$ 147,25 bilhões em 2030, com taxa composta de crescimento (CAGR) de cerca de 20,04% entre 2025-2030;
  • Apenas para o segmento D2C no Brasil, a firma 6Wresearch estimou que o mercado projetado teria CAGR de 15,2% no período 2025-2031;
  • O país é visto por marcas internacionais como alvo de expansão, com estimativa de crescimento acima de 14% ao ano até 2027, apontando para um mercado que pode ultrapassar US$ 82 bilhões.

Esses dados mostram que o Brasil é um terreno muito fértil para modelos D2C, dada a combinação de crescimento do e-commerce, adoção de dispositivos móveis, penetração de internet e inovação em logística e pagamento.

Diferença entre D2C, B2C e B2B

Para entender o porquê de D2C ser diferente — e por que merece destaque — convém contrastá-lo com os outros modelos comuns: B2C e B2B.

B2C (Business to Consumer)

No modelo B2C, uma empresa vende diretamente ao consumidor final, mas normalmente ainda há intermediários, ou vende por varejistas/marketplaces ou através de canais que não são próprios. Por exemplo: uma marca que fabrica roupas e vende para lojas de varejo ou vende em marketplaces via fornecedores terceirizados.

B2B (Business to Business)

Aqui, a empresa vende para outras empresas — como fabricantes que vendem para distribuidores, atacadistas ou varejistas. O cliente final não é o consumidor, mas outra empresa que então revende ou usa o produto em seu processo.

D2C (Direct to Consumer) vs. B2C vs. B2B

  • Em D2C, não há intermediários entre o fabricante/marca e o consumidor final; a marca assume vendas, marketing, distribuição e atendimento.
  • No modelo B2C tradicional, a marca pode depender de varejistas, marketplaces, ou redes de revenda, reduzindo o controle direto sobre a jornada do cliente.
  • Em B2B, a relação é entre empresas, os ciclos de venda são mais longos, geralmente baseados em contratos, e não há a ênfase na experiência final do consumidor.

Por que esta diferenciação importa

  • Para a marca: D2C permite maior controle da experiência do cliente, da marca, dos dados e da margem de lucro. Mas com isso vêm responsabilidades adicionais (logística, atendimento, retorno, etc.);
  • Para o consumidor: experiência mais direta, personalizada, possibilidade de relacionamento com a marca, expectativa de melhor experiência de compra;
  • Para quem analisa negócios e franquias: entender qual modelo está sendo adotado ou precisa ser adotado ajuda a estruturar proposta de valor, canais comerciais, marketing, logística e até a expansão por franquias.

Como funciona e como adotar o modelo D2C?

A adoção de um modelo D2C exige planejamento estratégico, organização de canais próprios (site, app, redes sociais), logística, atendimento e marketing digital.

Funcionamento básico

  1. Canal direto: a marca desenvolve ou revê seu canal de vendas direto — website próprio, app, presença digital forte. A marca assume a interface de venda;
  2. Logística e atendimento: entrega dos produtos ao consumidor, devoluções, atendimento pós-venda — funções normalmente intermediadas em modelos de varejo tradicionais devem ser gerenciadas;
  3. Marketing e relacionamento: a marca se relaciona diretamente com o consumidor, coleta dados, personaliza ofertas, engaja via redes sociais, e utiliza uma experiência de compra consistente;
  4. Dados e feedback: por ter contato direto, a empresa pode recolher insights de consumo, testar produtos mais rapidamente e ajustar estratégia com base no comportamento real do cliente.

Adotar o modelo em prática

  • Avaliação da marca/produção: a empresa precisa ter ou desenvolver competências para gerir vendas diretas, logística, atendimento, ou contratar parceiros que façam isso;
  • Definir canais próprios: criação ou fortalecimento de e-commerce, apps, redes sociais, possivelmente pontos físicos (showrooms) dependendo da estratégia omnichannel;
  • Estrutura de logística e devolução: montar ou contratar distribuição, fulfillment, armazenamento, transporte, políticas claras de troca/retorno;
  • Marketing digital e UX: investimento em aquisição de clientes (ads, social media), fidelização, personalização, além de experiência de usuário (site rápido, mobile, checkout simples);
  • Gerenciamento de marca e experiência: com o canal direto, a marca precisa garantir que a experiência seja coerente com seus valores, desde o packaging, entrega, pós-venda, comunicação;
  • Ajustar ou redesenhar modelo comercial: muitas vezes entrar em D2C implica repensar relações com distribuidores ou varejistas, e lidar com possíveis conflitos de canal.

É possível conectar o modelo D2C com franquias, especialmente quando a marca já opera ou deseja operar franquias. Algumas formas de integração:

  • A marca D2C pode oferecer unidades físicas de franquia que funcionem como showrooms ou pontos de experiência para o cliente, integrando o canal direto ao consumidor com presença local.
  • Franqueados podem atuar como embaixadores da marca, apoiar a entrega ou retirada de produtos D2C, atendimento local, serviços de personalização ou “click & collect”.
  • Sob o ponto de vista da franquia, há vantagem em associar-se a uma marca que já adota o canal D2C — porque o franqueado pode alavancar marketing da marca, estrutura digital, base de clientes, e oferecer o contato local com o consumidor. Por exemplo, foi observado que no Brasil modelos de e-commerce + franquia são uma combinação eficiente para escalar com marketing digital, de acordo com o E-commerce Brasil.
  • Contudo, atenção: a adoção de D2C em marcas que operam com franquias ou revendedores exige cuidado com conflitos de canal, ou seja, evitar que o canal direto canibalize as vendas das franquias ou parceiros.

Leia também: Multicanal: o que é e qual sua importância pra franquias

Vantagens do D2C

O modelo D2C oferece múltiplas vantagens competitivas para marcas que o adotam, especialmente em um ambiente digitalizado e com consumidores cada vez mais exigentes. Veja as principais:

  1. Controle da marca e da experiência do cliente: No D2C, a marca assume total controle sobre como o cliente conhece, compra, recebe e interage com o produto. Isso significa coerência de identidade, comunicação alinhada aos valores da marca, embalagem, pós-venda;
  2. Margens mais elevadas: Ao eliminar intermediários (distribuidores, varejistas, atacadistas), uma marca D2C pode reduzir custos do canal e, geralmente, aumentar a margem de lucro ou oferecer preço mais competitivo;
  3. Acesso direto a dados do consumidor: Relação direta com o final-cliente permite à marca coletar dados preciosos: perfil, hábitos de compra, preferências, devoluções, feedback. Isso permite melhores decisões de produto, marketing, fidelização;
  4. Inovação e agilidade mais rápidas: Sem a necessidade de passar por intermediários ou redes de varejo, marcas D2C podem testar novos produtos, ajustar oferta, reagir rapidamente às tendências ou ao feedback do cliente;
  5. Melhor relacionamento e fidelização de clientes: Como a marca lida diretamente com o consumidor, é possível construir comunidade, relações mais próximas, personalização, o que favorece repetição de compra e maiores níveis de retenção;
  6. Escalabilidade digital: O modelo D2C, sobretudo quando digital nativo, permite escala mais rápida geográfica ou de produto, sem necessidade de capilaridade física enorme, embora a logística seja desafio.

Essas vantagens fazem com que muitas empresas pensem em adotar D2C como parte de sua estratégia de crescimento ou transformação digital.

Quais cuidados tomar?

Embora o modelo D2C seja promissor, ele não é isento de desafios e armadilhas. Em especial para marcas que estão migrando ou querem combinar com franquias ou canais existentes, os cuidados são muitos:

  1. Logística e cadeia de suprimentos complexas: Gerenciar todas as etapas (produção, estoque, entrega, devolução) é mais desafiador do que simplesmente vender para um varejista. A marca passa a assumir esses processos;
  2. Aquisição de clientes (CAC) alta e competitividade intensa: No ambiente digital, competição por tráfego, aquisição, atenção de consumidor é elevada. CAC pode subir rapidamente se não houver diferenciação;
  3. Conflito de canal: Quando a empresa possui revendedores, franquias ou outros canais, lançar D2C pode gerar atrito, sensação de canibalização ou conflito com parceiros que até então eram clientes da marca. Como observado no Brasil, muitas marcas enfrentam este dilema;
  4. Necessidade de investimento em tecnologia e marketing: Para ter sucesso, o modelo D2C exige plataformas de e-commerce robustas, marketing digital, CRM, analytics, cuidado com experiência do usuário, etc.
  5. Gestão de devoluções, atendimento e experiência pós-venda: A marca assume toda a interface final com o cliente — se não entregar bem, reputação pode sofrer.
  6. Escala e maturidade operacional: Ainda que o crescimento digital facilite escala, para suportar volume maior é fundamental maturidade de processos, logística, atendimento, tecnologia.
  7. Privacidade de dados e compliance: Coletar dados diretamente exige atenção à legislação (por exemplo, no Brasil à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais – LGPD), à segurança das informações, à confiança dos consumidores.
  8. Segmentação e diferenciação clara: Em mercados saturados, a marca precisa ter proposta de valor clara, diferencial competitivo — simplesmente “vender direto” não basta.

Portanto, adotar D2C exige não apenas vontade ou marketing digital, mas preparação estratégica e operacional, e atenção às interações com outros canais, sobretudo com as franquias ou redes de distribuição.

D2C Summit

O evento D2C Summit é uma conferência especializada voltada ao universo direto ao consumidor, reunindo fundadores de marcas D2C, especialistas em marketing, operações, logística, tecnologia e investidores que buscam conhecer tendências, estratégias de crescimento e networking na área.

Principais destaques

  • O evento inclui palestras de founders, workshops práticos sobre aquisição de clientes, canais digitais, logística, escalabilidade e fidelização;
  • Também envolve painéis de investidores e exposições de soluções para marcas que operam ou desejam operar no canal D2C;
  • Em 2025, houve uma edição em São Paulo (realizada pela Nuvemshop) com dois dias de programação, mais de 60 horas de conteúdo, diversas trilhas temáticas voltadas para negócios que querem escalar via D2C.

Participar de um evento como o D2C Summit pode trazer benefícios como:

  • Acesso a insights atualizados de mercado e tendências no universo D2C.
  • Networking com marcas, especialistas, investidores e fornecedores de soluções.
  • Inspiração prática: casos de sucesso, desafios reais e estratégias que funcionam.
  • Ampliação da visão sobre como operar canais D2C, como integrá-los com outros modelos (como franquias) ou como escalar internacionalmente.

Para quem atua ou pretende atuar com D2C ou franquias que incorporam o modelo, acompanhar o D2C Summit (e similares) pode ser uma excelente forma de acelerar aprendizado e identificar parceiros ou fornecedores chave.

O futuro do D2C

Olhando à frente, o modelo D2C promete continuar crescendo e evoluindo — impulsionado por novas tecnologias, mudanças de comportamento do consumidor e inovação de canais.

Tendências que desenham o futuro

  • Omnicanal e híbrido: embora D2C seja frequentemente associado ao digital, vemos forte tendência de marcas que combinam canais online e offline: showrooms, experiências físicas, click & collect, retirada em loja, interações no metaverso.
  • Personalização em escala: uso de dados, IA, machine-learning para oferecer experiências individualizadas, recomendações, bundles customizados, assinaturas.
  • Sustentabilidade, propósito de marca e consumo consciente: os consumidores mais jovens valorizam marcas que têm propósito claro, práticas sustentáveis e se conectam com valores. Esse aspecto pode ser diferencial para marcas D2C.
  • Serviços e assinatura: modelos de assinatura D2C (repeat purchases, serviços complementares) continuarão a ganhar espaço, especialmente em categorias de consumo recorrente (saúde, beleza, bem-estar, alimentação).
  • Expansão internacional e escalabilidade global: marcas D2C bem-estruturadas buscarão entrar em novos mercados, e o Brasil pode tanto importar marcas quanto exportar.
  • Integração com franquias e redes locais: embora D2C tenha foco direto, veremos mais soluções híbridas com franquias ou unidades físicas que servem de suporte, ponto de experiência ou serviço, integradas à estratégia digital.
  • Dados e privacidade: com maior regulação de dados e mais consciência dos consumidores sobre privacidade, marcas D2C precisarão demonstrar transparência, segurança e confiança.
  • Logística e entrega rápida: a logística será cada vez mais fator de diferenciação — entregas ultrarrápidas, devoluções eficientes, experiência de compra fluida. No Brasil, isso já é relevante dada a extensão territorial e variabilidade de infraestrutura.
  • Marketplace ou ecosistema de marcas D2C: algumas marcas podem se unir para oferecer ecosistemas, cross-selling, marketplaces próprios ou plataformas que suportem múltiplas marcas D2C.

Relevância estratégica para 2025 em diante

Marcas que adotarem o D2C hoje com visão de futuro estarão melhor posicionadas para:

  • Estabelecer relacionamentos de longo prazo com consumidores, não apenas transações pontuais.
  • Usar os dados gerados para inovar em produto, marketing, experiência — obtendo vantagem competitiva.
  • Escalar de modo mais eficiente, controlando sua marca e canais.
  • Preparar-se para os desafios futuros de varejo, omnicanalidade e canais proprietários.

Para os mercados emergentes como o Brasil, com crescimento de e-commerce elevado, penetração digital crescente e mudança de hábitos de consumo (mobile, social commerce, etc.), o modelo D2C oferece tanto uma oportunidade de disrupção quanto de crescimento sólido.

O modelo D2C (Direct to Consumer) representa uma transformação importante no modo como marcas se relacionam com consumidores finais, assumindo controle direto da jornada de compra, entregando valor mais elevado, coletando dados e personalizando experiências.

Para quem atua no universo de franquias ou considera expandir via franquias, o D2C merece atenção especial: pode ser visto como canal complementar ou como nova forma de estruturação de negócio, seja integrando unidades físicas de franquia com o canal digital direto, seja repensando o papel dos parceiros na cadeia. Ao adotar o modelo, vale aproveitar as vantagens (margens, controle, inovação) e estar atento aos desafios (logística, conflito de canal, investimento tecnológico).

Olhando para o futuro, o D2C continuará evoluindo para ser cada vez mais omnicanal, mais personalizado, orientado a dados, e integrado a novos serviços e modelos como assinaturas.